segunda-feira, 31 de março de 2014

3° Encontro - Tema: Documentos médico-legais

Encontro realizado no dia 28/03/14.




Livores de hipóstase

Como sabemos que um corpo foi mudado de posição depois da morte? Pelos livores de hipóstase.

Depois da morte, o sangue, obedecendo as leis físicas da gravidade e através dos vasos comunicantes (veias que ligam as veias profundas às superficiais) acumulam-se nas veias mais próximas do solo.

Ou seja, se o corpo estava em decúbito dorsal, o sangue irá se acumular no dorso (costas) da pessoa. Se é o corpo de um enforcado, o sangue irá se acumular nos pés. E por aí vai...

Obs.: Decúbito é um termo médico, que refere-se a posição deitada da pessoa, podendo ser dorsal, em que a pessoa fica com a barriga para cima; ventral, em que a pessoa fica com a barriga para baixo; ou ainda lateral.

Como não há circulação sanguínea, e o sangue vai se acumulando nas partes mais baixas, logo vai se tornando visível através da pele. Percebemos isso através de machas arroxeadas.

Além de ajudarem a dizer a posição em que o cadáver estava, também pode ajudar a dizer como que a pessoa morreu, e até mesmo a hora em que a pessoa morreu!

Após 10 minutos, iniciá-se um pontilhado hemorrágico na pele.

Após 1 hora já são bem visíveis os livores.

Após 8 a 12 horas os livores tornam-se fixos, ou seja, mesmo que se vire o corpo eles não mudarão de posição. Isso ocorre em razão do sangue contido no interior das veias, pouco a pouco infiltrar os tecidos.

Estes prazos podem variar, pois existem causas que podem retardar ou acelerar esse processo.

A coloração do livor também ajuda a identificar a causa da morte.

O normal é arroxeada.

Outras cores indicam mortes específicas:
- Róseo carmim > monóxido de carbono.
- Róseo claro > afogamento.
- Vermelho > ácido cianídrico.
- Escuro > asfixias em geral.
- Azul ardósia > intoxicação por produtos metahemoglobinizantes.


Partes de uma arma

As armas de fogo são constituídas por 3 componentes essenciais:

• A culatra - destinada a segurar a arma.

• Mecanismos de disparo e extração constituídos por um gatilho (que o dedo empurra), um percutor (aquele ganchinho que fica no alto da culatra, que parece um martelinho) e um extrator (mecanismo interno semelhante a uma mola, que faz a ligação do gatilho com o percutor).

• O cano - cilindro oco de maior ou menor comprimento dependendo
da arma. Possui um corpo e dois orifícios ou bocas. A posterior, é chamada boca de carga e está unida à câmara de disparo. O orifício anterior, livre, é também chamado boca de fogo e é por onde sai o projétil no momento do disparo. A superfície interna do cano pode ser lisa ou estriada. Estas estrias conferem ao projétil estabilidade no ar.


Orifício de saída

É por definição inconstante e não existe quando o projétil fica retido dentro do corpo. A sua forma e dimensões variam muito.

Depende primeiramente dos planos que o projétil atravessou; se passou unicamente por tecidos moles (sem pegar em osso, por exemplo) o orifício de saída pode ser circular ou oval, de diâmetro idêntico ou pouco maior que o orifício de entrada.

Para alguns autores é mesmo considerado um equívoco comum dizer que o orifício de saída SEMPRE deverá ser maior que o orifício de entrada, pois não deverá ser a dimensão do orifício mas sim a ausência da margem de abrasão (orla e zonas) que distingue um do outro.

Os seus bordos costumam estar evertidos (para fora) e por vezes apresenta gordura do tecido subcutâneo (abaixo da pele), arrastado pelo projétil.

Se o projétil tiver sido deformado (quando se choca com um osso, por exemplo), então o orifício de saída será maior e mais irregular. Quando o projétil atravessa o tecido ósseo, os fragmentos desprendidos e arrastados saem pelo orifício.

O orifício de saída, ao contrário do orifício de entrada, não possui orla de contusão, nem as zonas de tatuagem, esfumaçamento ou queimadura, sendo a ausência desses elementos muito importante para definir se o orifício foi de entrada ou saída, e por conseguinte, de onde veio o disparo.

O local dessa lesão foi no hemitórax esquerdo (é o mesmo corpo da foto da lesão de entrada).

OBS.: Esta lesão veio suturada (com pontos) do hospital onde veio a falecer o individuo necropsiado. E isso esta ERRADO. Não se deve suturar as lesões, pois estas devem permanecer intactas para que não ocorra equívocos na perícia.


Câmara de mina de Hoffmann

É o nome dado à lesão provocada pelo disparo com o cano da arma encostado na pele da vítima. O orifício de entrada, diferente dos outros, terá as bordas evertidas (para fora), em razão da expansão dos gases do disparo.

Na doutrina encontramos:
Tiro com o cano apoiado ou encostado: (...) não encontrando espaço para a expansão necessária, é frequente que esses gases desloquem os tecidos moles dos planos ósseos subjacentes e provoquem uma verdadeira ruptura explosiva dos tecidos moles locais. Com a expansão dos gases e ruptura da pele local forma-se uma cratera, de bordas evertidas, inteiramente irregulares, a que HOFFMANN denominou de orifício em forma de boca de mina.
(...) a boca de mina de HOFFMANN aparece quando um disparo de projétil de arma de fogo é efetuado com a boca de fogo apoiada ao corpo, desde que haja um plano resistente por baixo.

Santos, R. B. Medicina Legal. p. 152-153. Rio de Janeiro, 2000.

Atividade Prática - Necropsia

Realizada em 23/03/14


Orifício de entrada

A sua forma é habitualmente arredondada ou ovalada. Nos disparos feitos a curta distância, a lesão adquire um aspecto rasgado, em estrela, devido à ação dos gases que se difundem com violência sob a pele.

As dimensões do orifício de entrada são variadas, dependendo da forma do projétil, da distância a que é feito o disparo e da força que o projétil possui ao bater na pele.

O local onde o projétil atingiu o corpo ajuda a entender a morte e as suas circunstâncias. Também o número de orifícios de entrada pode dar informações importantes relativas à natureza dos disparos. Assim, no caso de disparos múltiplos a probabilidade de se tratar de suicídio fica diminuída.

Em geral as bordas do orifício de entrada são invertidas (para dentro), a exceção é quando o disparo é efetuado com a arma encostada na vítima, onde neste caso, os bordos serão evertidas (para fora).

Existem outros sinais que acompanham a lesão: as orlas, ou zonas.

Orla de contusão ou escoriação: apresenta-se como uma aréola na borda do orifício devido ao impacto do projétil (aréola equimótica). Fornece-nos a direção do tiro.

Zona de tatuagem: é formada pelos resíduos de pólvora que penetram na pele como projéteis secundários em torno de 30 a 75 cm de distância. Não é removível com lavagem.

Zona de esfumaçamento: resulta da fumaça que é depositada na pele após o disparo. É removível com água.

Zona de queimadura ou chamuscamento: é formada pela ação do calor dos gases da detonação sobre a pele e pêlos.

Obs.: as vestes podem absorver certos materiais do disparo agindo como uma “primeira” pele, o que torna importante o estudo destas.

Devido à elasticidade da pele as dimensões do orifício podem ser menor que o calibre do projétil.

O local dessa lesão foi no hemitórax direito (próximo ao mamilo direito).